Andam, por aí, vários médicos pediatras a promover o movimento "Em Defesa dos Hospitais Pediátricos no País" e um segundo abaixo-assinado, no qual apelam à construção, em Lisboa, de uma unidade de saúde só para pequenas criaturas.
O novo movimento é lançado hoje, em Lisboa, e tem como objectivo primordial manter a autonomia do Hospital Dona Estefânia, melhorando as actuais condições desta unidade hospitalar especializada.
Este novo movimento volta a insistir, depois da entrega, em Outubro, de 76.000 assinaturas ao Presidente da República, na necessidade da independência do hospital pediátrico, em vez da sua integração num hospital de adultos, ao contrário do que defende a Ministra da Saúde.
Diz a senhora que “a bem da saúde da criança é muito importante que um hospital de pediatria esteja, hoje, ao nível de um hospital geral, com um serviço de qualidade, bem identificado, atendimento à criança como um serviço completamente isolado e separado dos adultos, mas em que os profissionais possam partilhar algumas áreas.”
Diz um dos grandes carolas em pediatria cá do burgo, o Professor Gentil Martins, que se pretende um hospital novo, ultra moderno, autónomo e que se situe ao lado dum hospital de adultos, já que há toda a vantagem em existir uma intercomunicação fácil, não querendo isto dizer que a pediatria esteja misturada com os adultos.
Num passado recente, por razões totalmente diferentes, recorremos aos serviços do Dona Estefânia e aos serviços de pediatria do Amadora-Sintra, ambos com um atendimento impecável e relativamente célere.
No entanto, a experiência vivida no Amadora-Sintra mostra bem o que se pretende com a existência de unidades de pediatria separadas dos hospitais, digamos, gerais, ao contrário do que defende a senhora ministra com essa história dos profissionais poderem partilhar algumas áreas.
Além disso, e mais este aparte, por alguma razão os profissionais pediátricos enveredaram por essa vertente da medicina, em vez de seguirem clínica geral.
Voltando aos serviços hospitalares, ainda que existam, no Amadora-Sintra, uma entrada, uma sala de espera e gabinetes de consulta perfeitamente diferenciados, tudo decorado a preceito para manter os mais pequenos no seu ambiente, a pequena cria viu-se encaminhada para a ala dos adultos na hora de lhe coser a queixola, numa clara situação da tal partilha de algumas áreas.
Aí, tudo se modificou e, ainda que acompanhada pelos pais, a criança deu de caras com um ambiente que, por vezes, até a nós, adultos, pode fazer alguma confusão ao espírito.
Basta referir que, na sala de espera para a micro cirurgia, havia um jovem com uma ligadura totalmente ensanguentada a envolver-lhe a carola, um senhor de meia idade com um pé inchado que mais parecia um melão, duas velhas a gemer com dores físicas e psicológicas e um gajo que, cada vez que tossia, deitava cá para fora, para dentro dum recipiente mas à vista de todos, umas bostas amareladas raiadas de encarnado.
No meio daquilo tudo, nós, os pais, a tentar desviar, com custo, a atenção da pequena cria que não desviava o olhar da cabeça ensanguentada e que se punha a gritar “Olha! Olha!” cada vez que o mancebo do lado escarrava.
E se aquela merda, a mim, que nem sou nada impressionável com estas coisas, me incomodava, imagino o que é estaria a passar pela cabeça duma criança de dois anos e meio, altura em que atravessam uma daquelas fases ávidas de curiosidade e respostas.
Acredito que a experiência da pseudo sutura podia ter sido muito mais agradável, especialmente para a Joana, se não tivesse que estar à espera da sua vez no meio dum ambiente daqueles e considero que o tal movimento tem toda a razão e que existem, efectivamente, situações em que é de toda a conveniência, e tem toda a lógica, que exista uma separação cabal entre pequenas criaturas e os adultos.
Nem quero imaginar, por exemplo, que a minha filha tivesse que passar pelo trauma de ter que partilhar uma enfermaria com a Ministra da Saúde ou com o Sr. Sócrates, num qualquer hipotético episódio duma urgência hospitalar.
Se alguém souber onde se pode assinar esse manifesto, agradeço que me digam, porque, esse, assino de cruz!
Nota – Também publicado no Traquina e Irrequieta
O novo movimento é lançado hoje, em Lisboa, e tem como objectivo primordial manter a autonomia do Hospital Dona Estefânia, melhorando as actuais condições desta unidade hospitalar especializada.
Este novo movimento volta a insistir, depois da entrega, em Outubro, de 76.000 assinaturas ao Presidente da República, na necessidade da independência do hospital pediátrico, em vez da sua integração num hospital de adultos, ao contrário do que defende a Ministra da Saúde.
Diz a senhora que “a bem da saúde da criança é muito importante que um hospital de pediatria esteja, hoje, ao nível de um hospital geral, com um serviço de qualidade, bem identificado, atendimento à criança como um serviço completamente isolado e separado dos adultos, mas em que os profissionais possam partilhar algumas áreas.”
Diz um dos grandes carolas em pediatria cá do burgo, o Professor Gentil Martins, que se pretende um hospital novo, ultra moderno, autónomo e que se situe ao lado dum hospital de adultos, já que há toda a vantagem em existir uma intercomunicação fácil, não querendo isto dizer que a pediatria esteja misturada com os adultos.
Num passado recente, por razões totalmente diferentes, recorremos aos serviços do Dona Estefânia e aos serviços de pediatria do Amadora-Sintra, ambos com um atendimento impecável e relativamente célere.
No entanto, a experiência vivida no Amadora-Sintra mostra bem o que se pretende com a existência de unidades de pediatria separadas dos hospitais, digamos, gerais, ao contrário do que defende a senhora ministra com essa história dos profissionais poderem partilhar algumas áreas.
Além disso, e mais este aparte, por alguma razão os profissionais pediátricos enveredaram por essa vertente da medicina, em vez de seguirem clínica geral.
Voltando aos serviços hospitalares, ainda que existam, no Amadora-Sintra, uma entrada, uma sala de espera e gabinetes de consulta perfeitamente diferenciados, tudo decorado a preceito para manter os mais pequenos no seu ambiente, a pequena cria viu-se encaminhada para a ala dos adultos na hora de lhe coser a queixola, numa clara situação da tal partilha de algumas áreas.
Aí, tudo se modificou e, ainda que acompanhada pelos pais, a criança deu de caras com um ambiente que, por vezes, até a nós, adultos, pode fazer alguma confusão ao espírito.
Basta referir que, na sala de espera para a micro cirurgia, havia um jovem com uma ligadura totalmente ensanguentada a envolver-lhe a carola, um senhor de meia idade com um pé inchado que mais parecia um melão, duas velhas a gemer com dores físicas e psicológicas e um gajo que, cada vez que tossia, deitava cá para fora, para dentro dum recipiente mas à vista de todos, umas bostas amareladas raiadas de encarnado.
No meio daquilo tudo, nós, os pais, a tentar desviar, com custo, a atenção da pequena cria que não desviava o olhar da cabeça ensanguentada e que se punha a gritar “Olha! Olha!” cada vez que o mancebo do lado escarrava.
E se aquela merda, a mim, que nem sou nada impressionável com estas coisas, me incomodava, imagino o que é estaria a passar pela cabeça duma criança de dois anos e meio, altura em que atravessam uma daquelas fases ávidas de curiosidade e respostas.
Acredito que a experiência da pseudo sutura podia ter sido muito mais agradável, especialmente para a Joana, se não tivesse que estar à espera da sua vez no meio dum ambiente daqueles e considero que o tal movimento tem toda a razão e que existem, efectivamente, situações em que é de toda a conveniência, e tem toda a lógica, que exista uma separação cabal entre pequenas criaturas e os adultos.
Nem quero imaginar, por exemplo, que a minha filha tivesse que passar pelo trauma de ter que partilhar uma enfermaria com a Ministra da Saúde ou com o Sr. Sócrates, num qualquer hipotético episódio duma urgência hospitalar.
Se alguém souber onde se pode assinar esse manifesto, agradeço que me digam, porque, esse, assino de cruz!
Nota – Também publicado no Traquina e Irrequieta
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