Este fim-de-semana tive a oportunidade de rever um Amigo de longa data, alguém que não via há 10 anos, a última vez que fui a Espanha.
Alguém que não vinha a Portugal há cerca de 20 anos, altura em que, depois de uns anos de trabalho cá no burgo, se viu obrigado a voltar a Espanha, na sequência de ordens superiores, vindas do país vizinho, que determinavam o fecho da fábrica, em que trabalhava, por motivos financeiros.
Claro está que, depois de relembrar os velhos tempos e de muito passeio por Lisboa, Cascais e Sintra, a conversa incidiu sobre a evolução de Portugal e de Espanha e a realidade que se vive, actualmente, em ambos os países, ambos, sublinhe-se, afectados pela crise internacional.
Com crise ou sem crise, as diferenças abismais não são, obviamente, de agora e tudo começou há muitos anos atrás, quando o país vizinho soube começar a aproveitar a conjectura internacional e as ajudas que lhe foram sendo proporcionadas para inverter a situação e “disparar”, em termos económicos e sociais, ao contrário de Portugal que estagnou e ficou ultrapassado.
Com crise ou sem crise, é nestas alturas que me pergunto para que é que pénis serviu, ou serve, a União Europeia, o Euro e mais uma série de merdas derivadas da inclusão deste pequeno recanto numa Europa que, supostamente, deveria ser mais equitativa.
À laia de notas soltas, aqui ficam algumas das muitas diferenças entre os dois países da Península Ibéria e permitam-me, os caros leitores, relembrar que ambos os países são governados por socialistas, ambos com uma taxa de desemprego muito elevada, ambos com problemas de segurança, ambos a braços com reivindicações sociais, ambos etc, etc, etc.
- O ordenado mínimo em Espanha ronda os 630 euros, ou seja, 180 euros mais que os 450 euros cá do burgo, sendo um valor superior, por exemplo, ao ordenado da minha querida mulher, o que a deixou boquiaberta e algo revoltada.
Dizem as estimativas que no não muito longínquo ano de 2012 o ordenado mínimo em Espanha deverá rondar os 800 euros, enquanto que o nacional deverá andar por volta dos 500… Trezentos euros de diferença dentro de pouco mais de dois anos e meio.
- O meu estimado Amigo fez quase mil quilómetros para vir desde Valência até Lisboa, dos quais setecentos – nas chamadas auto-vias espanholas e que são iguais às nossas auto-estradas – sem pagar um cêntimo, e trezentos, depois de entrar em território nacional, a pagar os valores que todos conhecemos.
Dirão os estimados leitores que em Espanha também se pagam portagens e com valores bem superiores aos praticados cá no burgo…
É verdade, sim senhor, mas tal facto verifica-se em auto-estradas exploradas por entidades privadas e não nas vias a cargo do estado espanhol.
E, repito, as tais das auto-vias são iguais ou superiores às nossas auto-estradas que passam a vida em obras.
- Continuando na senda dos desgraçados dos automobilistas, refira-se que, em Espanha, o litro de gasolina 95 custa, em média, porque o preço varia muito entre estações de serviço, 1,050 euros, enquanto que cá no burgo a populaça desembolsa 1,261 euros por cada litro.
No gasóleo a diferença não é tão acentuada mas, ainda assim, o litro em Espanha continua a ser mais barato que em Portugal.
- Por ser um indicador forte do nível de vida dum cidadão, continuámos a falar de assuntos relacionados com carros e, mais uma vez, as diferenças vieram à tona.
Uma hora de aluguer de karts, coisa de que este Vosso interlocutor é aficionado, é qualquer coisa como sete a dez euros mais barata em Espanha.
O Ford Focus com o motor 1.400 de cilindrada e oitenta cavalos de potência, que em Espanha nem sequer existe à venda, custa, cá no burgo, 19.100 euros… Em Espanha, o Focus 1.600 com 100 cavalos custa, com o mesmo nível de equipamento, 16.450 euros. Ou seja, mais carro por menos dinheiro.
A diferença acentua-se, fenómeno sobejamente conhecido de quem se interessa por estas coisas das quatro rodas, quando passamos a escalões superiores, como, por exemplo, o BMW 320d que custa 30.000 euros em Espanha, contrastando com os 42.450 euros pedidos pelos concessionários cá do burgo. Nada mais, nada menos do que doze mil, quatrocentos e cinquenta euros de diferença.
E os gajos ganham, em média, bem mais do que nós!
- Quando chegou a altura de meter uma das crias na escola do estado, o meu caríssimo Amigo deparou-se com falta de vagas na escola pretendida.
Cá no burgo, e isso aconteceu com a minha querida filhinha, falta de vagas é igual a desespero dos pais que ou têm com quem deixar as crias ou têm que fazer o sacrifício de aguentar a mensalidade dum infantário particular.
No país vizinho, a partir duma determinada idade, a escolaridade é obrigatória e, se não existem, criam-se vagas.
Para o efeito, a direcção da escola tirou dois ou três alunos de turmas já existentes e juntou-os numa nova turma, onde incluiu a cria do meu referido Amigo.
Além disso, os pais recebem um subsídio do estado para a compra de livros e material escolar, qualquer coisa como 150 euros, que lhes permite encarar aquele mês de compras para o ano escolar com um maior optimismo do que aqueles pais que ouvimos a queixarem-se num qualquer telejornal cá do burgo.
- Apartamentos T2? Isso é para os casais reformados que, atendendo à idade, que vai avançando, já não têm pachorra para limpar uma casa maior e quantos menos passos derem, para ir da sala para o quarto, melhor.
Em Espanha, o normal é começar logo com um T3 ou um T4 ou, porque não, pensar numa pequena vivenda, ainda que geminada, porque as condições de financiamento proporcionadas pelos bancos e as ajudas que possam vir do estado permitem a uma jovem família optar por esse tipo de habitação.
Sim, eu sei… Mas isso, meus caros leitores, é igual a Portugal… Há zonas mais caras e há zonas mais baratas e, nesse particular, as zonas caras de Espanha são realmente caras.
Há, no entanto, que saber escolher e tomar uma opção de vida, tal como cá no burgo.
- Esta coisa, tão apregoada pelo Sr. Sócrates, de melhor conciliar a vida familiar com a vida laboral é também “tema de campanha” em Espanha.
Em primeiro lugar, a populaça tem a oportunidade de solicitar a chamada meia jornada, ou seja, trabalhar quatro horas e receber cerca de 400 euros.
Neste particular, ficou-me a dúvida sobre se o valor apresentado foi dado como sendo o valor realmente pago, e ponto final, ou se aparecia como resultado de algum exemplo prático.
De qualquer maneira, a populaça espanhola continua a ter muitas facilidades no que toca a flexibilidade de horários e continuam a dar o eterno exemplo de trabalhar das nove às dezoito de segunda a quinta e das nove às catorze e trinta à sexta-feira, começando o fim-de-semana umas horas mais cedo.
Diga-se, de passagem, que aquela gente tem direito a 30 úteis de férias e, em alguns casos, sete dias extra para tratar de assuntos pessoais.
É caso para perguntar… Se é possível em Espanha, porque é que não é possível cá no burgo?
Em suma, e no computo geral, a comparação continua a ser a mesma de há anos a esta parte e resume-se ao facto de que os espanhóis ganham mais e têm um custo de vida mais acessível, ao passo que o miserável do tuga ganha menos e tem um custo de vida, em média, mais caro.
Claro que nem tudo são rosas e que, no país vizinho, também há muita merda, mas uma coisa é certa:
Numa Espanha igualmente a braços com o flagelo da crise e do desemprego, a classe média mantém-se maioritária e com um nível de vida acima do razoável, enquanto que cá no burgo essa mesma classe média está cada vez mais pobre e com tendência a desaparecer.
Dito tudo isto, talvez seja hora dos nossos governantes, nomeadamente o Sr. Sócrates, tirarem uns dias de licença sem vencimento e irem ter umas aulas de governabilidade com os seus homólogos espanhóis.
Alguém que não vinha a Portugal há cerca de 20 anos, altura em que, depois de uns anos de trabalho cá no burgo, se viu obrigado a voltar a Espanha, na sequência de ordens superiores, vindas do país vizinho, que determinavam o fecho da fábrica, em que trabalhava, por motivos financeiros.
Claro está que, depois de relembrar os velhos tempos e de muito passeio por Lisboa, Cascais e Sintra, a conversa incidiu sobre a evolução de Portugal e de Espanha e a realidade que se vive, actualmente, em ambos os países, ambos, sublinhe-se, afectados pela crise internacional.
Com crise ou sem crise, as diferenças abismais não são, obviamente, de agora e tudo começou há muitos anos atrás, quando o país vizinho soube começar a aproveitar a conjectura internacional e as ajudas que lhe foram sendo proporcionadas para inverter a situação e “disparar”, em termos económicos e sociais, ao contrário de Portugal que estagnou e ficou ultrapassado.
Com crise ou sem crise, é nestas alturas que me pergunto para que é que pénis serviu, ou serve, a União Europeia, o Euro e mais uma série de merdas derivadas da inclusão deste pequeno recanto numa Europa que, supostamente, deveria ser mais equitativa.
À laia de notas soltas, aqui ficam algumas das muitas diferenças entre os dois países da Península Ibéria e permitam-me, os caros leitores, relembrar que ambos os países são governados por socialistas, ambos com uma taxa de desemprego muito elevada, ambos com problemas de segurança, ambos a braços com reivindicações sociais, ambos etc, etc, etc.
- O ordenado mínimo em Espanha ronda os 630 euros, ou seja, 180 euros mais que os 450 euros cá do burgo, sendo um valor superior, por exemplo, ao ordenado da minha querida mulher, o que a deixou boquiaberta e algo revoltada.
Dizem as estimativas que no não muito longínquo ano de 2012 o ordenado mínimo em Espanha deverá rondar os 800 euros, enquanto que o nacional deverá andar por volta dos 500… Trezentos euros de diferença dentro de pouco mais de dois anos e meio.
- O meu estimado Amigo fez quase mil quilómetros para vir desde Valência até Lisboa, dos quais setecentos – nas chamadas auto-vias espanholas e que são iguais às nossas auto-estradas – sem pagar um cêntimo, e trezentos, depois de entrar em território nacional, a pagar os valores que todos conhecemos.
Dirão os estimados leitores que em Espanha também se pagam portagens e com valores bem superiores aos praticados cá no burgo…
É verdade, sim senhor, mas tal facto verifica-se em auto-estradas exploradas por entidades privadas e não nas vias a cargo do estado espanhol.
E, repito, as tais das auto-vias são iguais ou superiores às nossas auto-estradas que passam a vida em obras.
- Continuando na senda dos desgraçados dos automobilistas, refira-se que, em Espanha, o litro de gasolina 95 custa, em média, porque o preço varia muito entre estações de serviço, 1,050 euros, enquanto que cá no burgo a populaça desembolsa 1,261 euros por cada litro.
No gasóleo a diferença não é tão acentuada mas, ainda assim, o litro em Espanha continua a ser mais barato que em Portugal.
- Por ser um indicador forte do nível de vida dum cidadão, continuámos a falar de assuntos relacionados com carros e, mais uma vez, as diferenças vieram à tona.
Uma hora de aluguer de karts, coisa de que este Vosso interlocutor é aficionado, é qualquer coisa como sete a dez euros mais barata em Espanha.
O Ford Focus com o motor 1.400 de cilindrada e oitenta cavalos de potência, que em Espanha nem sequer existe à venda, custa, cá no burgo, 19.100 euros… Em Espanha, o Focus 1.600 com 100 cavalos custa, com o mesmo nível de equipamento, 16.450 euros. Ou seja, mais carro por menos dinheiro.
A diferença acentua-se, fenómeno sobejamente conhecido de quem se interessa por estas coisas das quatro rodas, quando passamos a escalões superiores, como, por exemplo, o BMW 320d que custa 30.000 euros em Espanha, contrastando com os 42.450 euros pedidos pelos concessionários cá do burgo. Nada mais, nada menos do que doze mil, quatrocentos e cinquenta euros de diferença.
E os gajos ganham, em média, bem mais do que nós!
- Quando chegou a altura de meter uma das crias na escola do estado, o meu caríssimo Amigo deparou-se com falta de vagas na escola pretendida.
Cá no burgo, e isso aconteceu com a minha querida filhinha, falta de vagas é igual a desespero dos pais que ou têm com quem deixar as crias ou têm que fazer o sacrifício de aguentar a mensalidade dum infantário particular.
No país vizinho, a partir duma determinada idade, a escolaridade é obrigatória e, se não existem, criam-se vagas.
Para o efeito, a direcção da escola tirou dois ou três alunos de turmas já existentes e juntou-os numa nova turma, onde incluiu a cria do meu referido Amigo.
Além disso, os pais recebem um subsídio do estado para a compra de livros e material escolar, qualquer coisa como 150 euros, que lhes permite encarar aquele mês de compras para o ano escolar com um maior optimismo do que aqueles pais que ouvimos a queixarem-se num qualquer telejornal cá do burgo.
- Apartamentos T2? Isso é para os casais reformados que, atendendo à idade, que vai avançando, já não têm pachorra para limpar uma casa maior e quantos menos passos derem, para ir da sala para o quarto, melhor.
Em Espanha, o normal é começar logo com um T3 ou um T4 ou, porque não, pensar numa pequena vivenda, ainda que geminada, porque as condições de financiamento proporcionadas pelos bancos e as ajudas que possam vir do estado permitem a uma jovem família optar por esse tipo de habitação.
Sim, eu sei… Mas isso, meus caros leitores, é igual a Portugal… Há zonas mais caras e há zonas mais baratas e, nesse particular, as zonas caras de Espanha são realmente caras.
Há, no entanto, que saber escolher e tomar uma opção de vida, tal como cá no burgo.
- Esta coisa, tão apregoada pelo Sr. Sócrates, de melhor conciliar a vida familiar com a vida laboral é também “tema de campanha” em Espanha.
Em primeiro lugar, a populaça tem a oportunidade de solicitar a chamada meia jornada, ou seja, trabalhar quatro horas e receber cerca de 400 euros.
Neste particular, ficou-me a dúvida sobre se o valor apresentado foi dado como sendo o valor realmente pago, e ponto final, ou se aparecia como resultado de algum exemplo prático.
De qualquer maneira, a populaça espanhola continua a ter muitas facilidades no que toca a flexibilidade de horários e continuam a dar o eterno exemplo de trabalhar das nove às dezoito de segunda a quinta e das nove às catorze e trinta à sexta-feira, começando o fim-de-semana umas horas mais cedo.
Diga-se, de passagem, que aquela gente tem direito a 30 úteis de férias e, em alguns casos, sete dias extra para tratar de assuntos pessoais.
É caso para perguntar… Se é possível em Espanha, porque é que não é possível cá no burgo?
Em suma, e no computo geral, a comparação continua a ser a mesma de há anos a esta parte e resume-se ao facto de que os espanhóis ganham mais e têm um custo de vida mais acessível, ao passo que o miserável do tuga ganha menos e tem um custo de vida, em média, mais caro.
Claro que nem tudo são rosas e que, no país vizinho, também há muita merda, mas uma coisa é certa:
Numa Espanha igualmente a braços com o flagelo da crise e do desemprego, a classe média mantém-se maioritária e com um nível de vida acima do razoável, enquanto que cá no burgo essa mesma classe média está cada vez mais pobre e com tendência a desaparecer.
Dito tudo isto, talvez seja hora dos nossos governantes, nomeadamente o Sr. Sócrates, tirarem uns dias de licença sem vencimento e irem ter umas aulas de governabilidade com os seus homólogos espanhóis.
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