quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Calcinhas

Desde muito pequeno que sempre tive o bichinho dos carros e, depois de começar a guiar ao colo e aprender a meter mudanças, quer com a mão esquerda quer com a direita, comecei a guiar sozinho, lá por volta dos 11 ou 12 anos.

Na altura, o meu pai trabalhava para a Austin (entretanto extinta), o que levava a que, por vezes, aparecesse em casa com um “tanque de guerra” chamado Austin Cambridge (ou Morris Oxford), que, carinhosamente e vá-se lá saber porquê, apelidávamos de “Calcinhas”.

Uma carripana fabulosa, com uma chaparia à antiga, um motor a gasóleo cuja resistência demorava uma eternidade para aquecer, antes de ligar o carro, e um interior espartano, com um banco corrido à frente e uma porra dum volante que mais parecia um volante duma camioneta, tais eram suas dimensões desproporcionadas.


Obviamente que direcção assistida era coisa que não existia, o que obrigava a um esforço desmedido para virar o volante, e a caixa de quatro velocidades, sem qualquer tipo de sincronização, era dura como o raio que a parta mas excelente para aprender, na perfeição, a engrenar as mudanças com a chamada “dupla”.

Hoje em dia, depois de, por razões ligadas a empregos anteriores, ter guiado uma imensidão invejável de carros das mais diversas marcas, desde mais fracos a mais potentes, de gama baixa a gama altíssima, de descapotáveis a jipes, passando pelos monovolumes e por carros de competição, ainda relembro, com alguma nostalgia, o “Calcinhas”, especialmente quando me aparecem determinados imbecis pela frente, como o estafermo que quase me abalroou, logo pelo fresquinho da manhã, ao entrar, à matador, numa rotunda, sem olhar, sem abrandar e a cagar-se para quem já circulava dentro da referida.

Esse cabresto, ao volante da sua linda Ford Focus SW, novinha em folha, pode dar graças a Deus por eu não ir ao volante do “Calcinhas” porque, sem duvida nenhuma, teria levado um suave encosto, suficiente para lhe desfazer toda a lateral do carro.

O “Calcinhas”, esse, talvez ficasse com uns riscos ou uma pequena mossa no pára-choques, e eu ficaria, sem duvida alguma, a rir que nem um perdido com a situação.

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